quarta-feira, 6 de abril de 2011

Questionário: Civilização Egípcia

Aí está o questionário resolvido sobre a Civilização Egípcia. Bom estudo para a avaliação!

1) Descreva a localização do Egito.
O Egito está localizado no Nordeste da África. É um extenso oásis irrigado pelo Nilo, o qual é ladeado pelos desertos da Árábia e da Líbia.

2) Qual a consequência das cheias do Rio Nilo?
As cheias do Nilo fazem o rio transbordar e depositar em suas margens o lodo e o limo que possibilitam o aproveitamento agrícola da região.

3) Relacione alguns produtos da economia egípcia.
Agricultura: cevada, trigo, árvores frutíferas e legumes;
Pecuária: porcos, cabras, bois;
Artesanato: papiro (papel, cordas, caixas, sandálias, esteiras); tecidos de linho;

4) Qual o papel do Estado Egípcio na economia?
O Estado egípcio (representado na figura do Faraó) era proprietário dos meios de produção, incluindo terras e instrumentos de trabalho. Esse Estado intervencionista planejava, controlava e fiscalizava a economia (produção e comércio).

5) Qual o papel dos camponeses?
Os camponeses organizados em comunidades aldeãs recebiam terras para o cultivo, pagando em tributos e em trabalho. Eles sustentavam a economia e a sociedade do Egito.

6) O que acontecia com os excedentes? Como eram distribuídos?
Os excedentes recolhidos eram depositados em armazéns pertencentes ao Estado. A distribuição não era igualitária. A fatia maior cabia aos altos funcionários, escribas, sacerdotes, artesãos, etc... Por último era distribuída a ração para os trabalhadores braçais.

7) Explique quem era quem na sociedade egípcia:
faraó: considerado um deus vivo, detendo o poder temporal (político) e espiritual (religioso). Era considerado o proprietário de todas as terras do Egito.

sacerdotes:Os sacerdotes gozavam de imensos privilégios. Seus templos eram parte do governo dos Faraós, e administravam as terras, os tributos e o trabalho dos camponeses.

Escribas: Profissão bastante considerada, pois poucas pessoas aprendiam a ler e a escrever. Trabalhavam nos templos, fazendo todo o registro necessário.

Escravos: os escravos eram capturados na guerra, com o comércio, com a prole dos escravos, ou como tributo das regiões dominadas que incluía cativos. O tratamento variava. Escravos domésticos, artesãos ou artistas recebiam melhor tratamento. Já a situação eram pior para os escravos que trabalhavam nas minas e pedreiras. O escravo tinha personalidade jurídica, podendo adquirir propriedades e até casar-se com uma pessoa livre.

8) Cite duas características da religião egípcia.
Politeístas, acreditavam num grande número de deuses. Representavam algumas divindades com corpos de homens e cabeças de animais ou vice-versa (antropozoomorfismo). Acreditavam na imortalidade da alma. E que a alma poderia voltar ao corpo, daí a necessidade da mumificação.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Atividade: Descartes

Bom dia, turma! Lembra da leitura que fizemos da primeira parte do Discurso do Método, de Descartes? Agora aqui estão outras partes da obra. Leia o texto abaixo e responda as questões. Postar as respostas no e-meio até o dia 25/04. Valor: 3,0.

Segunda Parte
NAQUELA ÉPOCA, encontrava-me na Alemanha, para onde me sentira atraído pelas
guerras, que ainda não terminaram, e, ao regressar da coroação do imperador para o exército,
o começo do inverno me obrigou a permanecer num quartel onde, por não encontrar convívio
social algum que me distraísse, e, também, felizmente, por não ter quaisquer desejos ou
paixões que me perturbassem, ficava o dia inteiro fechado sozinho num quarto bem aquecido,
onde dispunha de todo o tempo para me entreter com os meus pensamentos. Um dos
primeiros entre eles foi lembrar-me de considerar que, freqüentemente, não existe tanta
perfeição nas obras formadas de várias peças, e feitas pela mão de diversos mestres, como
naquelas em que um só trabalhou. Deste modo, nota-se que os edifícios projetados e
concluídos por um só arquiteto costumam ser mais belos e mais bem estruturados do que
aqueles que muitos quiseram reformar, utilizando-se de velhas paredes construídas para outras
finalidades.
E assim pensei que as ciências dos livros, ao menos aquelas cujas razões são apenas prováveis e que não apresentam quaisquer demonstrações, pois foram compostas e avolumadas devagar com opiniões de muitas e diferentes pessoas, não se encontram, de forma alguma, tão próximas da verdade quanto os simples raciocínios que um homem de bom senso pode fazer naturalmente acerca
das coisas que se lhe apresentam. E também pensei que, como todos nós fomos crianças antes
de sermos adultos, e como por muito tempo foi necessário sermos governados por nossos
apetites e nossos preceptores, que eram com freqüência contrários uns aos outros, e que, nem
uns nem outros, nem sempre, talvez nos aconselhassem o melhor, é quase impossível que
nossos juízos sejam tão puros ou tão firmes como seriam se pudéssemos utilizar totalmente a
nossa razão desde o nascimento e se não tivéssemos sido guiados senão por ela.
É verdade que não vemos em lugar algum demolirem todas os edifícios de uma cidade,
com o exclusivo propósito de reconstruí-los de outra maneira, e de tornar assim suas ruas
mais belas; mas vê-se na realidade que muitos derrubam suas casas para reconstruí-las, sendo
ainda por vezes obrigados a fazê-lo, quando elas correm o risco de cair por si próprias, por
seus alicerces não se encontrarem muito firmes. A exemplo disso, convenci-me de que não
seria razoável (…) reformar o corpo das ciências ou a ordem estabelecida nas escolas para ensiná-las; mas que, a respeito de todas as opiniões que até então acolhera em meu crédito, o melhor a fazer seria dispor-me, de uma vez para sempre, a retirar-lhes essa confiança, para substitui-las em seguida ou por outras melhores, ou então pelas mesmas, após havê-las ajustado ao nível da razão. E acreditei com firmeza em que, por este meio, conseguiria conduzir minha vida muito melhor do que se a construísse apenas sobre velhos alicerces e me apoiasse tão-somente sobre princípios a
respeito dos quais me deixara convencer em minha juventude, sem ter nunca analisado se
eram verdadeiros.

1) Para Descartes, a verdade poderia ser encontrada na opinião de muitas pessoas diferentes? Justifique.

Jamais o meu objetivo foi além de procurar reformar meus próprios pensamentos e
construir num terreno que é todo meu. De maneira que, se, tendo minha obra me agradado
bastante, eu vos mostro aqui o seu modelo, nem por isso desejo aconselhar alguém a imitá-lo.
Havendo aprendido, desde a escola, que nada se poderia imaginar tão estranho e tão pouco acreditável que algum dos filósofos já não houvesse dito; e depois, ao viajar, tendo reconhecido que todos os que possuem sentimentos muito contrários aos nossos nem por isso são bárbaros ou selvagens, mas que muitos utilizam, tanto ou mais do que nós, a razão; e, havendo considerado quanto um mesmo homem, com o seu mesmo espírito, sendo criado desde a infância entre franceses ou alemães, torna-se diferente do que seria se vivesse sempre entre chineses ou canibais; e como, até nas modas de nossos trajes, a mesma coisa que nos agradou há dez anos, e que talvez nos agrade ainda antes de decorridos outros dez, nos parece agora extravagante e ridícula, de forma que são bem mais o costume e o exemplo que nos convencem do que qualquer conhecimento correto e que,
apesar disso, a pluralidade das vozes não é prova que valha algo para as verdades um pouco
difíceis de descobrir, por ser bastante mais provável que um único homem as tenha
encontrado do que todo um povo: eu não podia escolher ninguém cujas opiniões me
parecessem dever ser preferidas às de outros, e achava-me como coagido a tentar eu próprio
dirigir-me.
Porém, igual a um homem que caminha solitário e na absoluta escuridão, decidi ir tão
lentamente, e usar de tanta ponderação em todas as coisas, que, mesmo se avançasse muito
pouco, ao menos evitaria cair. Não quis de maneira alguma começar rejeitando inteiramente
qualquer uma das opiniões que por acaso haviam se insinuado outrora em minha confiança,
sem que aí fossem introduzidas pela razão, antes de gastar bastante tempo em elaborar o
projeto da obra que iria empreender, e em procurar o verdadeiro método para chegar ao
conhecimento de todas as coisas de que meu espírito fosse capaz.
achei que me seriam suficientes os quatro preceitos seguintes, uma
vez que tornasse a firme e inalterável resolução de não deixar uma só vez de observá-los.
O primeiro era o de nunca aceitar algo como verdadeiro que eu não conhecesse
claramente como tal; ou seja, de evitar cuidadosamente a pressa e a prevenção, e de nada
fazer constar de meus juízos que não se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito
que eu não tivesse motivo algum de duvidar dele.
O segundo, o de repartir cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas
quantas fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las.
O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos objetos mais
simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-me, pouco a pouco, como galgando degraus,
até o conhecimento dos mais compostos, e presumindo até mesmo uma ordem entre os que
não se precedem naturalmente uns aos outros.
E o último, o de efetuar em toda parte relações metódicas tão completas e revisões tão
gerais nas quais eu tivesse a certeza de nada omitir.

2) Explique os quatro procedimentos defendidos por Descartes em seu método:
a) a evidência:
b) a análise:
c) a síntese:
d) a enumeração:


No entanto, o que mais me satisfazia nesse método era o fato de que, por ele, tinha
certeza de usar em tudo minha razão, se não à perfeição, ao menos o melhor que eu pudesse;
ademais, sentia, ao utilizá-lo, que meu espírito se habituava pouco a pouco a conceber mais
nítida e distintamente seus objetos, e que, não o havendo sujeitado a nenhuma matéria em
especial, prometia a mim mesmo empregá-lo com a mesma utilidade a respeito das
dificuldades das outras ciências como o fizera com as da álgebra. Não que me atrevesse a
empreender primeiramente a análise de todas as que se me apresentassem, pois isso seria
contrário à ordem que ele prescreve. Porém, havendo percebido que os seus princípios deviam
ser todos tomados à filosofia, na qual até então não encontrava sequer um que fosse correto,
pensei que seria preciso, em princípio, tentar ali estabelecê-los; e que, sendo isso a coisa mais
importante do mundo, e em que a pressa e a prevenção eram mais de recear, não devia pôr em
execução sua realização antes de atingir uma idade bem mais madura do que a dos 23 anos
que eu tinha naquela época e antes de ter gasto muito tempo em preparar-me para isso, tanto
extirpando de meu espírito todas as más opiniões que nele dera acolhida até então, como
reunindo numerosas experiências para servirem logo depois de matéria aos meus processos
racionais, e adestrando-me no método que me preceituara, com o propósito de me fixar
sempre mais nele.

Terceira Parte
AFINAL, COMO não é suficiente, antes de dar início à reconstrução da casa onde
residimos, demoli-la, ou munir-nos de materiais e contratar arquitetos, ou habilitar-nos na
arquitetura, nem, além disso, termos efetuado com esmero o seu projeto, é preciso também
havermos providenciado outra onde possamos nos acomodar confortavelmente ao longo do
tempo em que nela se trabalha. Da mesma maneira, para não hesitar em minhas ações,
enquanto a razão me obrigasse a fazê-lo, em meus juízos, e a fim de continuar a viver desde
então de maneira mais feliz possível, concebi para mim mesmo uma moral provisória, que
consistia apenas em três ou quatro máximas que eu quero vos anunciar.
A primeira era obedecer às leis e aos costumes de meu país, mantendo-me na religião na
qual Deus me concedera a graça de ser instruído a partir da infância, e conduzindo-me, em
tudo o mais, de acordo com as opiniões mais moderadas e as mais distantes do excesso, que
fossem comumente aceitas pelos mais sensatos daqueles com os quais teria de conviver.
E, entre várias opiniões igualmente aceitas, escolhia somente as moderadas: tanto porque são sempre as mais cômodas para a prática, e provavelmente as melhores, já que todo excesso costuma ser mau, como também para me desviar menos do verdadeiro caminho, caso eu falhasse, do que, havendo escolhido um dos extremos, fosse o outro aquele que eu deveria ter seguido.
Minha segunda máxima consistia em ser o mais firme e decidido possível em minhas
ações, e em não seguir menos constantemente do que se fossem muito seguras as opiniões
mais duvidosas, sempre que eu me tivesse decidido a tanto. Imitava nisso os viajantes que,
estando perdidos numa floresta, não devem ficar dando voltas, ora para um lado, ora para
outro, menos ainda permanecer num local, mas caminhar sempre o mais reto possível para um
mesmo lado, e não mudá-lo por quaisquer motivos, ainda que no início só o acaso talvez haja
definido sua escolha: pois, por este método, se não vão exatamente aonde desejam, ao menos
chegarão a algum lugar onde provavelmente estarão melhor do que no meio de uma floresta.
E, assim como as ações da vida não suportam às vezes atraso algum, é uma verdade muito
certa que, quando não está em nosso poder o distinguir as opiniões mais verdadeiras, devemos
seguir as mais prováveis.
Minha terceira máxima era a de procurar sempre antes vencer a mim próprio do que ao
destino, e de antes modificar os meus desejos do que a ordem do mundo; e, em geral, a de
habituar-me a acreditar que nada existe que esteja completamente em nosso poder, salvo os
nossos pensamentos, de maneira que, após termos feito o melhor possível no que se refere às
coisas que nos são exteriores, tudo em que deixamos de nos sair bem é, em relação a nós,
absolutamente impossível.
Por fim, para a conclusão dessa moral, decidi passar em revista as diferentes ocupações
que os homens exercem nesta vida, para procurar escolher a melhor; e, sem pretender dizer
nada a respeito das dos outros, achei que o melhor a fazer seria continuar naquela mesma em
que me encontrava, ou seja, utilizar toda a minha existência em cultivar minha razão, e
progredir o máximo que pudesse no conhecimento da verdade, de acordo com o método que
me determinara.

3) Quais as três máximas morais defendidas por Descartes? E com que objetivo ele seguia essas normas?

Depois de haver-me assim assegurado destas máximas, e de tê-las separado, com as
verdades da fé, que sempre foram as primeiras na minha crença, julguei que, quanto a todo o
restante de minhas opiniões, podia livremente procurar desfazer-me delas. E, como esperava
chegar melhor ao fim dessa tarefa conversando com os homens, do que prosseguindo por mais
tempo fechado no quarto aquecido onde me haviam surgido esses pensamentos, recomecei a
viajar quando o inverno ainda não terminara. E, em todos os nove anos que se seguiram, não
fiz outra coisa a não ser girar pelo mundo, daqui para ali, tentando ser mais espectador do que
ator em todas as comédias que nele se representam; e, refletindo particularmente, em cada
matéria, sobre o que podia torná-la suspeita e propiciar a oportunidade de nos enganarmos, ao
mesmo tempo extirpava do meu espírito todos os equívocos que até então nele se houvessem
instalado. Não que imitasse, para tanto, os céticos, que duvidam só por duvidar e fingem ser
sempre indecisos: pois, ao contrário, todo o meu propósito propendia apenas a me certificar e
remover a terra movediça e a areia, para encontrar a rocha ou a argila. O que consegui muito
bem, quer me parecer, ainda mais que, procurando descobrir a falsidade ou a incerteza das
proposições que analisava, não por fracas conjeturas, mas por raciocínios claros e seguros,
não encontrava nenhuma tão duvidosa que dela não tirasse sempre alguma conclusão bastante
correta, na pior da hipóteses a de que não continha nada de correto. E, da mesma maneira que
ocorre ao demolir uma velha casa, conservam-se comumente os entulhos para serem
utilizados na construção de outra nova, assim, ao destruir todas as minhas opiniões que
julgava mal alicerçadas, fazia diversas observações e adquiria muitas experiências, que me
serviram mais tarde para estabelecer outras mais corretas. E, além disso, continuava a praticar
no método que me preceituara; pois não apenas tomava o cuidado de, em geral, dirigir todos
os meus pensamentos conforme as suas regras, como reservava, de tempos em tempos,
algumas horas, que utilizava especialmente em aplicá-los nas dificuldades de matemática, ou
também em algumas outras que eu podia tornar quase parecidas às das matemáticas,
separando-as de todos os princípios das outras ciências, que eu não considerava
suficientemente sólidos, como vereis que procedi com várias que são explicadas neste
volume.

Quarta Parte
NÃO ESTOU SEGURO se deva falar-vos a respeito das primeiras meditações que aí
realizei; já que por serem tão metafísicas e tão incomuns, é possível que não serão apreciadas
por todos. Contudo, para que seja possível julgar se os fundamentos que escolhi são suficientemente
firmes, vejo-me, de alguma forma, obrigado a falar-vos delas. Havia bastante
tempo observara que, no que concerne aos costumes, é às vezes preciso seguir opiniões, que
sabemos serem muito duvidosas, como se não admitissem dúvidas, conforme já foi dito
acima; porém, por desejar então dedicar-me apenas a pesquisa da verdade, achei que deveria
agir exatamente ao contrário, e rejeitar como totalmente falso tudo aquilo em que pudesse
supor a menor dúvida, com o intuito de ver se, depois disso, não restaria algo em meu crédito
que fosse completamente incontestável. Ao considerar que os nossos sentidos às vezes nos
enganam, quis presumir que não existia nada que fosse tal como eles nos fazem imaginar. E,
por existirem homens que se enganam ao raciocinar, mesmo no que se refere às mais simples
noções de geometria, e cometem paralogismos, rejeitei como falsas, achando que estava sujeito
a me enganar como qualquer outro, todas as razões que eu tomara até então por
demonstrações. E, enfim, considerando que quaisquer pensamentos que nos ocorrem quando
estamos acordados nos podem também ocorrer enquanto dormimos, sem que exista nenhum,
nesse caso, que seja correto, decidi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam
entrado no meu espírito não eram mais corretas do que as ilusões de meus sonhos. Porém,
logo em seguida, percebi que, ao mesmo tempo que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se
necessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, ao notar que esta verdade: eu penso,
logo existo, era tão sólida e tão correta que as mais extravagantes suposições dos céticos não
seriam capazes de lhe causar abalo, julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo algum, o
primeiro princípio da filosofia que eu procurava.
Mais tarde, ao analisar com atenção o que eu era, e vendo que podia presumir que não
possuía corpo algum e que não havia mundo algum, ou lugar onde eu existisse, mas que nem
por isso podia supor que não existia; e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu pensar em
duvidar da verdade das outras coisas, resultava com bastante evidência e certeza que eu
existia; ao passo que, se somente tivesse parado de pensar, apesar de que tudo o mais que
alguma vez imaginara fosse verdadeiro, já não teria razão alguma de acreditar que eu tivesse
existido; compreendi, então, que eu era uma substância cuja essência ou natureza consiste
apenas no pensar, e que, para ser, não necessita de lugar algum, nem depende de qualquer
coisa material. De maneira que esse eu, ou seja, a alma, por causa da qual sou o que sou, é
completamente distinta do corpo e, também, que é mais fácil de conhecer do que ele, e,
mesmo que este nada fosse, ela não deixaria de ser tudo o que é.
Depois disso, considerei o que é necessário a uma proposição para ser verdadeira e
correta; pois, já que encontrara uma que eu sabia ser exatamente assim, pensei que devia saber
também em que consiste essa certeza. E, ao perceber que nada há no eu penso, logo existo,
que me dê a certeza de que digo a verdade, salvo que vejo muito claramente que, para pensar,
é preciso existir, concluí que poderia tomar por regra geral que as coisas que concebemos
muito clara e distintamente são todas verdadeiras, havendo somente alguma dificuldade em
notar bem quais são as que concebemos distintamente.

4) Explique a defesa que Descartes faz da ideia “Penso, logo existo”.

Depois, havendo refletido a respeito daquilo que eu duvidava, e que, por conseguinte,
meu ser não era totalmente perfeito, pois via claramente que o conhecer é perfeição maior do
que o duvidar, decidi procurar de onde aprendera a pensar em algo mais perfeito do que eu
era; e descobri, com evidência, que devia ser de alguma natureza que fosse realmente mais
perfeita. No que se refere aos pensamentos que eu formulava sobre muitas outras coisas fora
de mim, como a respeito do céu, da Terra, da luz, do calor e de mil outras, não me era tão
difícil saber de onde vinham, porque, não notando neles nada que me parecesse torná-los
superiores a mim, podia julgar que, se fossem verdadeiros, seriam dependências de minha
natureza, na medida em que esta possuía alguma perfeição; e se não o eram, que eu os
formulava a partir do nada, ou seja, que existiam em mim pelo que eu possuía de falho. Mas
não podia ocorrer o mesmo com a idéia de um ser mais perfeito do que o meu; pois fazê-la
sair do nada era evidentemente impossível; e, visto que não é menos repulsiva a idéia de que o
mais perfeito seja uma conseqüência e uma dependência do menos perfeito do que a de
admitir que do nada se origina alguma coisa, eu não podia tirá-la tampouco de mim próprio.
De maneira que restava somente que tivesse sido colocada em mim por uma natureza que
fosse de fato perfeita do que a minha, e que possuísse todas as perfeições de que eu poderia
ter alguma idéia, ou seja, para dizê-lo numa única palavra, que fosse Deus. A isso acrescentei
que, admitido que conhecia algumas perfeições que eu não tinha, não era o único ser que
existia (usarei aqui livremente, se vos aprouver, alguns termos da Escola); mas que devia
necessariamente haver algum outro mais perfeito, do qual eu dependesse e de quem tivesse
recebido tudo o que possuía. Pois, se eu fosse sozinho e independente de qualquer outro, de
maneira que tivesse recebido, de mim próprio, todo esse pouco mediante o qual participava do
Ser perfeito, poderia receber de mim, pelo mesmo motivo, todo o restante que sabia faltar-me,
e ser assim eu próprio infinito, eterno, imutável, onisciente, todo-poderoso, e enfim ter todas
as perfeições que podia perceber existirem em Deus.

5) Explique como Descartes justifica a existência de Deus.

Mas o que leva muitas pessoas a se convencerem de que é difícil conhecê-lo, e também
em conhecer o que é sua alma, é o fato de nunca alçarem o espírito além das coisas sensíveis e
de estarem de tal forma habituadas a nada considerar exceto na imaginação, que é uma
maneira de pensar particular às coisas materiais, que tudo quanto não é imaginável lhes parece
não ser inteligível. E isto é bastante evidente pelo fato de os próprios filósofos terem por
máxima, nas escolas, que nada existe no entendimento que não haja estado primeiramente nos
sentidos, onde, contudo, é certo que as idéias de Deus e da alma nunca estiveram. E me parece
que todos aqueles que querem usar a imaginação para compreendê-las se comportam da
mesma maneira que se, para ouvir os sons ou sentir os odores, quisessem utilizar-se dos
olhos; salvo com esta diferença: que o sentido da visão não nos assegura menos a verdade de
seus objetos do que os do olfato ou da audição; enquanto a nossa imaginação ou os nossos
sentidos jamais poderiam garantir-nos coisa alguma, se o nosso juízo não interviesse.
Afinal, se ainda há homens que não estejam totalmente convencidos da existência de
Deus e da alma, com as razões que apresentei, quero que saibam que todas as outras coisas, a
respeito das quais se consideram talvez certificados, como a de possuírem um corpo,
existirem astros e a Terra, e coisas parecidas, são ainda menos certas. Pois, apesar de se ter
dessas coisas uma certeza moral, que é de tal ordem que, salvo sendo-se extravagante, parece
impossível colocá-la em dúvida; contudo, ao que concerne à certeza metafísica, não se pode
negar, a não ser que não tenhamos bom senso, que é motivo suficiente para não possuirmos
total segurança a respeito, o fato de observarmos que podemos da mesma maneira imaginar,
ao estarmos dormindo, que temos outro corpo, que vemos outros astros e outra Terra, sem que
isso seja verdade.
(…) E, quanto ao equívoco mais recorrente de nossos sonhos, que consiste em nos representarem vários objetos tal como fazem nossos sentidos exteriores, não importa que ele nos dê a oportunidade de desconfiar da verdade de tais idéias, porque estas também podem nos enganar repetidas vezes, sem que estejamos dormindo, como ocorre quando os que têm icterícia vêem tudo da cor amarela, ou quando os astros ou outros corpos extremamente distantes de nós se nos afiguram muito menores do que são. Pois, enfim, quer estejamos despertos, quer dormindo, jamais devemos nos deixar convencer exceto pela evidência de nossa razão. E deve-se observar que eu digo de nossa razão, de maneira alguma de nossa imaginação ou de nossos sentidos. Porque, apesar de enxergarmos o sol bastante claramente, não devemos julgar por isso que ele seja do tamanho que o vemos; e bem
podemos imaginar distintamente uma cabeça de leão enxertada no corpo de uma cabra, sem
que tenhamos de concluir, por isso, que no mundo existe uma quimera; pois a razão não nos
sugere que tudo quanto vemos ou imaginamos seja verdadeiro, mas nos sugere realmente que
todas as nossas idéias ou noções devem conter algum fundamento de verdade; pois não seria
possível que Deus, que é todo perfeito e verídico, as tivesse colocado em nós sem isso. E,
pelo fato de nossos raciocínios nunca serem tão evidentes nem tão completos durante o sono
como durante a vigília, apesar de que às vezes nossas imaginações sejam tanto ou mais vivas
e patentes, ela nos sugere também que, não podendo nossos pensamentos serem totalmente
verdadeiros, porque não somos totalmente perfeitos, tudo o que eles contêm de verdade deve
encontrar-se inevitavelmente naquele que temos quando despertos, mais do que em nossos
sonhos.

6) Para Descartes, podemos confiar na imaginação? E nos nossos sentidos? Em que devemos confiar então? Justifique.